quarta-feira, 29 de maio de 2013

Um ativista encantador

Esta hora e dez minutos vai voar. Não deixem de ver, e de partilhar.
 "The problem is that humans have victimized animals to such a degree that they are not even considered victims. They are not even considered at all. They are nothing. They don't count; they don't matter; they're commodities like TV sets and cell phones.

We have actually turned animals into inanimate objects - sandwiches and shoes."
 
"O problema é que os humanos vitimizaram os animais num tal grau que estes nem sequer são considerados vítimas. Não são considerados de forma alguma. São nada. Não contam; não importam; são comodidades como televisões e telemóveis.
Na verdade tornámos os animais em objetos inanimados - sandwiches e sapatos".
Gary Yourofsky
Gary Yourofsky é um denodado ativista vegan, e protagonista de um discurso que deveria ser visto por cada um dos habitantes deste pobre mundo. Pobre, mas tão cheio de soluções. E dos recursos sentimentais que quisermos. Questão de abrir a flor da clarividência e da piedade e do que, talvez, se chame bondade. A "extra-brilhante bondade da alma" de Ginsberg?
A frase que cito acima retirei-a do mural do Facebook da interessantíssima The Ethical Legion.
 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A consciência animal

Se pensarmos bem (e, ops, formos conscientes), não é bem bem uma novidade. Mas no ano passado, em Cambridge, uma notícia cientificamente fundamentada explodiu no mundo sancionada com um solene manifesto oficial por parte da comunidade científica: claro que os animais têm consciência, e como!

Deixo uma entrevista interessantíssima com o neurologista Philip Low, através do muito interessante blog Vegetarianismo e Ética.

Não estamos sozinhos na senciência, não estamos sozinhos na consciência.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Essa mesma coisa

Ser pela justiça. Defender os direitos de todas as minorias, desde que não esmaguem direitos alheios. Não pretender, sob pretexto algum, tomar para si o que não é seu. Ser contrário à covardia e ao abandono.
 
Desprezar as lavagens de mãos "à la Pilatos" que nos conspurcam os dias.
 
Isso e não comer animais. Não pagar para que os aniquilem e explorem e roubem descanso, dignidade e paz. Isso tudo acima, e isto aqui de baixo. É tudo a mesma coisa.
 
Leitor, aproxime-se: é tudo a mesma coisa. Perceba o quê e depois vire a cara, feche os olhos, tape os ouvidos, se conseguir ou ainda quiser.

domingo, 19 de maio de 2013

Ideal - Real

Há uns dias, por causa de uma observação que ouvi, fiquei nesta ponderação de mim para mim: o veganismo é um ideal?
 
Bom, sem dúvida, não deixa de sê-lo. Mas diria que é muito mais do que isso. Para mim, ser vegan é escolher um caminho porque qualquer alternativa não é alternativa, mas uma escolha errada, motivadora de sofrimento, desequilíbrio, injustiça. Ser vegan é pretender assumir a responsabilidade de ser racional, de conter ideais, sim, mas também de saber ouvir o grito de urgência, a inesquecível sirene da nossa consciência e dos nossos melhores sentimentos.
 
É uma urgência e uma clara, inequívoca e muito real aplicação não apenas do que se acredita, mas do que se sabe ser bom. Não se trata, portanto, apenas de ideia. Ultrapassa-se a ideia com a vivência da única opção correta a tomar.

sábado, 18 de maio de 2013

Os vegans não comem erva pá!

 
Maravilhosos bolinhos vegan de um café em Copenhaga, Simple Raw
(Foto de moi même)
 
Regressada de mais uma ausência laboral, venho aqui com fortes argumentos para mudar o mundo da gastronomia mundial. Ou, pelo menos, da gastronomia mundial... vegan.
 
Começo a atingir a fase da impaciência pública - e sei que não devo - e da ironia insolente - e sei que não devo -, perante jantares como beterraba (que amo) à entrada e à saída. Cenouras cruas e fatias de beterraba luzidia, ainda que brilhantemente temperadas - justiça se faça! - não são refeição para ninguém, e ninguém inclui vegans. A minha latina vontade é pedir para falar com os cozinheiros perguntar qualquer coisa como "Olha lá pá, achas que por eu não rachar os cascos da bovinada para lhes devorar as carnes tenho como única alternativa o teu crudivorismo mal orientado?! Cenouras e beterrabas pá? Não vos ocorre nada simples, proteico, nutritivo, como adicionar cogumelos (mesmo de lata), soja, seitan, tofu, grão-bico, feijão, sequer um destes elementos? Apre! Many thanks!" Mas claro que a pessoa não faz (ainda) nada disto, e lá fica semi-esfaimada graças à ignorância e incúria alheias.
 
O máximo do meu desabafar foi quando uma colega, responsável pelas lides da hospitalidade, me diz para ver se os (mínimos) pratinhos do meu tabuleiro seriam vegan, já que tinham escrito "vegetariano". Que eles (cozinheiros/empregados) é que tinham de saber, respondi, já um pouco enviezada.
 
Depois é a TAP que entende que vegetarianos e vegans é tudo a mesma tribo e pumba, uma bolona enorme de queijo no meu tabuleiro. Lá fiquei no pão e nas batatas fritas (batatas fritas que tinha levado).
 
Mundo, escutai: os vegans não comem erva! Pá. Têm uma diversidade arrebatadora de verduras, leguminosas, grãos diversos, frutos, bebidas, com possibilidades de confeção igualmente elásticas. E, imaginem... ta na na na... deliciosas! Esqueçam a lei do menor esforço. Be smart. Be kind. E, de preferência... percebam o enorme erro que estão a fazer ao não mudar a vossa escolha alimentar que mais não é do que uma escolha ética.

Bom apetite aos que no prato não têm cadáveres.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

As mães

Quem ouviu, não esquece. São vários dias no mesmo pesar que confrange qualquer espectador. É preciso não ter coração para não sentir. É preciso não ter coração para persistir em caminhos que suscitam sofrimento.
 
É um som doloroso, são olhos enormes saturados de desolação. Uma dor em carne viva teima em não desaparecer. E ficará, decerto, pela memória dos tempos.
 
Trata-se da vaca mãe que chora quando lhe retiram brutalmente os filhotes, que nunca mais verá.
 
Em nome de quê?
 
Bastam todas as espúrias, estúpidas e desnecessárias barbaridades. Injustificáveis bestialidades. Bloqueios ao melhor de nós, seres humanos, seres que sentem, seres que pensam, que têm saudades, memória, e que amam. Não apouquemos o nosso valor, nem as nossas possibilidades. Não. Mesmo.

Obrigada queridos seguidores

Hoje queria, em primeiro lugar, agradecer aos dois queridos seguidores da Consciência Vegan - muito bem-vindos, e muito obrigada!
 
Aqui nesta casinha, é tão importante um quanto um milhão. Abraço!

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Outro prazer para além do bem fazer

 
Foto minha, prato meu:
Seitan e cuscuz. E pós vários de mágico sabor.
 
A maciez deliciosa do seitan. A porosidade do tofu, que se oferece todo aos temperos. A fabulosa leveza do leite de arroz. A flexibilidade da soja. O prazer do cacau. A saúde do leite de aveia (e de aveia com cacau?). Os sabores surpreendentes dos queijos vegetais. As empadas de lentilhas, que entram pelo céu da boca como um avião de sabor. A versatilidade do grão de bico, das ervilhas, do feijão; puros, em sopas, em purés. A azeitona em paté. As torradas com azeite. As batatas assadas com refogado de cogumelos. Tudo fresco, quentinho, a estalar, a derramar-se em deleite, a expandir o deleite das melhores degustações.
 
Ainda por cima, ser vegan sabe tão bem ao palato! Nunca gostei tanto de comer.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Desafio aos meus leitores não vegan

Se tivessem de explicar a razão de, na vossa opinião, a vida de um ser humano valer mais do que a de um animal - que pode ser uma vaca, por exemplo - quais seriam os argumentos utilizados? Três ou quatro bastarão. Se quiserem partilhar aqui, são mais que bem-vindos.
 
Não virem a cara para não ver a realidade, não fechem os portões ao pensamento, não se embotem sentimentalmente. Isso é sanidade.

"Gosto tanto de animais!"

" Adoro animais. Gosto de uns para estimação e de outros para comer."
(Trad. minha)
 
Afago gatinhos, e como perus. Passeio com o meu cão e financio a prisão impiedosa das galinhas, com luzes violentas em cima toda a vida, umas em cima das outras, esmagadas umas contra as outras, com patas partidas por manuseamentos displicentes, com patas em sangue por estarem sobre arames, mas amo o meu canário.
 
Amo o tigre e estraçalho a vaca no prato, vibro com o lince e asfixio, ou pago para que o façam, o peixe, que só quer a liberdade do maravilhoso mar para viver.
 
Faço isto tudo mas acho-me uma boa pessoa. Um bom ser humano. Também não tenho consciência, o que ajuda. 

domingo, 5 de maio de 2013

E que tal inovar no início da semana?

Já ouviram falar da segunda-feira sem carne? Ora clicai.

E não paro de ficar estupefacta com o facto de 70% do solo arável mundial servir para alimentar gado.

Parem, escutem, sintam.

Pensar está na moda.

sábado, 4 de maio de 2013

E o maluco sou eu?

A vaca come transgénicos. Vós comeis a vaca.
 
Vós comeis transgénicos com hiperabundância, e depois fazeis corridas pró-saudáveis dentre o monóxido de carbono destas ruas imundas.
 
O gás metano emitido pelos animais de pasto é mais responsável pelo efeito estufa que todos os transportes reunidos do mundo.
 
São precisos 15 mil litros de água para produzir 1kg de carne.
 
A massiva ocupação de solo para pastorícia, para além de resultar numa erosão sistemática e danosa dos solos, é uma oportunidade inestimável perdida para o desenvolvimento da agricultura e para matar a fome aos milhões que continuam a morrer de um flagelo inaceitável no séc. XXI.
 
Do ponto de vista humano, e portanto ético, e ambiental, o consumo de animais para satisfazer necessidades alimentares perfeitamente supridas pela diversidade e riqueza nutritiva do mundo vegetal é um crime.
 
E o maluco(a) sou eu?

sexta-feira, 3 de maio de 2013

As mais verosímeis entrevistas

Em prol de alguma reflexão, por vezes pelos ínvios mas amistosos caminhos do humor, aqui fica um recorte “jornalístico”  com interessantes diálogos sobre a nossa relação com as demais espécies. Digno do National Geographic.*
 
TZ – Obrigada por nos disponibilizar breves instantes. Gosta de animais?
O Esbaforido – Sim, pá claro…O meu cãozinho, aquilo é o máximo! Um amigo!
TZ – Qual é a sua opinião sobre o facto dos seres humanos se alimentarem à custa do sacrifício dos animais, aos milhões, aos biliões?
O Esbaforido – Eh pá…É assim…A gente alguma coisa tem de comer, e sempre assim se fez.
TZ – Mas há muitos médicos, nutricionistas, investigadores, estudiosos, que nos asseguram que não é necessário o consumo de produtos de origem animal para vivermos e para sermos saudáveis, para além do exemplo de tantos vegetarianos e vegans pelo mundo fora que respiram saúde e que até se livraram de muitos medicamentos com os seus hábitos alimentares! E a FAO já aprovou a dieta vegan.
O Esbaforido – Ãh?.. Pois isso não sei, só sei que alguma coisa a gente tem de meter para o saco senão pá…ah ah Está a ver. Tenho mesmo de ir agora ãh?, sorte!

 
TZ- Muito obrigada por nos conceder a sua atenção. Tem algum animal doméstico?
O Contemplativo – Não tenho. Mas aprecio.
TZ – Aprecia por gostar de animais, ou pela relação interessante que se estabelece entre estes e nós, seres humanos?
O Contemplativo – Por ambas as razões. Os animais são muito dedicados, engraçados, e ajudam-nos a sociabilizar. (Eu pessoalmente detesto a massa, se me permite o desabafo, e gosto de viver de forma independente, mas as virtudes dos animais são inegáveis).
TZ – E qual é a sua perspectiva sobre o morticínio massivo de animais para consumo humano? Como sabemos, há estudos diversos, e exemplos práticos que confirmam a não necessidade de carne, peixe, produtos animais e de origem animal para a nossa saúde.Há alimentos alternativos e até suplementos para a vitamina B12 – da qual carecemos em pequenas quantidades.
O Contemplativo – (pausa) Bom, há estudos que dizem tudo. E infelizmente, a morte é certa. Como diz o povo, lá teremos de morrer de alguma coisa. É muito triste, a morte, mas é um facto. Fatídico. (Sorriso lúgubre e muito delicado.)
TZ – Sendo a morte inevitável (mas “prognósticos só no final do jogo” eh eh ), o sofrimento pode ser evitável ao máximo. Será que estamos a dar o nosso melhor pelos nossos companheiros de Planeta não humanos?
O Contemplativo – Sem dúvida que não. (Pausa.) Não. Há muitos animais que são abandonados e até maltratados.
TZ - Mas mais ainda são mortos. Todos os dias. Para os comermos. E não precisamos. O que acha disso?
O Contemplativo – Na verdade acho que é uma tradição que nunca desaparecerá. São assim os tempos.
TZ – No entanto, o nosso olhar crítico sobre a forma de viver e sobre as pessoas que somos pode mudar as tradições. Ou não?
O Contemplativo – (pausa) Pode ser que sim. Pode ser que não. Quem sabe? (Sorriso bondoso.)
TZ – Cada um de nós sabe?
O Contemplativo – Pois. Pode ser. São assim os tempos.
TZ – E, por exemplo, da sua parte, o que pensa que pode ou deve fazer quanto a esta situação?
O Contemplativo – Sinceramente, nada. Eu observo os tempos e vou vivendo.

 
TZ – Obrigada por parar e dar-nos uns momentos preciosos do seu tempo. O que é que acha da vida das vaquinhas , encurtada a 80 ou 90% para que as comamos? Entre outros animais, naturalmente.
O Abespinhado – Eh pá, se é para dar dinheiro às Associações de Animais isso não que a coisa está muito má por estes lados…
TZ – Não, nada disso. É apenas uma entrevista, aliás, uma troca de ideias. Já alguma vez deu consigo a pensar na vida e na morte desses animais? Das vaquinhas, por exemplo?
O Abespinhado – Pois mas elas existem mesmo para isso. Eh eh. É chato, realmente, a gente devia poder comer do ar mas não dá. Eu nem gosto de vacas pá.
TZ – E de cães, gatos, passaritos?
O Abespinhado – Tive um canarito por 10 anos e depois morreu olha, nunca mais tive nenhum. Era um bom compincha. Mas ele é ele e eu sou eu. Eh eh.
TZ – Não acredita que se estabeleça uma relação afectiva entre pessoas e animais? Entreajuda, carinho, amizade, respeito?
O Abespinhado – Ná pá! Eles são eles e nós somos nós. Vaquinhas, canarinho, cavalos, éguas, burros!...Eles são eles e nós somos nós, é assim. Sempre foi e sempre será.
TZ – E…hum…tem de ser assim por que razão, para além de ser tradição?
O Abespinhado – Oh pá sei lá, não leve a mal você é meio chata…Olhe, não leve a mal, vem aí o eléctrico, vou!...

 
TZ – Obrigada por nos dar este bocadinho. A senhora tem animais?
A Amável – Obrigada. Tenho sim, três gatinhos.
TZ – E consome animais?
A Amável (acercando-se) – Como diz?
TZ – Consome animais, costuma comê-los?
A Amável (quase em persignação) – Não, credo! Aos meus gatinhos, nunca menina!
TZ – Não, referia-me a outros animais. Vacas, porcos, atuns, por exemplo.
A Amável (sorrindo de alívio) – Oh, sim! Mas isso é diferente, esses são para comer!
TZ – Por exemplo, os hindus não comem vacas, são sagradas para a sua religião. Já viu como são pacíficas nos campos, como nos olham curiosas, como são ligadas aos seus filhotes? Qual é a diferença entre uma vaca e um gato?
A Amável – Pois, eu percebo, os animais sofrem. Mas há uns para comer e outros não, não é? Nós precisamos de alimento e de nutrientes, não podemos evitar.
TZ – Mas qual é a diferença, no seu ponto de vista, entre uma vaca e um gato?
A Amável – Bem, a vaca é um bicho muito grande, que não se dá em casas, mas no campo. São bichos criados para abater, coitadinhos, mas é essa a verdade.
TZ – Mas a senhora considera que a vaca, por exemplo, tem uma capacidade inferior de sentir dor, prazer, medo, conforto ou alegria que um gato?
A Amável – Sei lá coitadinhas. A gente também as vê sempre lá longe a pastar quando andamos pelas aldeias, não se percebe bem se estão contentes ou tristes. Certamente sentirão dor, são criaturas de Deus.
TZ – Falando em Deus, é de opinião que Ele concordaria com a forma como tratamos os demais animais, seres vivos como nós?
A Amável – Mas se Ele os criou foi para isso mesmo, menina. Penso eu. Eu não gosto de maltratar nenhum. Eu não mato nenhum.
TZ – Mas no fundo paga para alguém o fazer, pois consome-os.
A Amável – Bom, eu não pago para o fazerem. Eu vou ao mercado e eles já estão lá.
TZ – Em sinceridade, a senhora não acredita que há meios alternativos, hoje em dia, mais do que suficientes? Tofu, seitan, soja, todas as leguminosas, cereais, tempeh, cogumelos, e tantas mais coisas, para além da carne e do peixe? Ou melhor, não acredita que poderíamos, com a variedade de que hoje dispomos, viver com saúde sem matar animais?
A Amável (pausa) – Olhe menina, é possível. Mas é assim olhe.

 
TZ – Muito obrigada por aceitar esta breve entrevista. Hoje é o Dia Mundial do Animal e gostava de perguntar-lhe se não a choca a forma como os tratamos: animais abandonados, animais maltratados e, em quantidades incontáveis, animais mortos para nosso alimento.
A Moderna – A mim não me choca. É a lei da vida, é a cadeia alimentar.
TZ – Mas não considera que nós podemos mudar as leis da vida até certo ponto, desde que queiramos? E por que é que é uma lei? Temos direitos sobre as vidas de outros seres?
A Moderna – De outros seres humanos não, mas dos animais sim. Eles são irracionais e basicamente existem, enquadram-se nos seus ecossistemas mas existem para consumo. Senão nem existiam. Ia dar ao mesmo.
TZ – Mas acha mesmo que é o mesmo não existir por nunca ter sido concebido ou existir, sofrer, ser separado dos filhos, dos pais, penar mil torturas e dores físicas, medo, extrema ansiedade, e finalmente morrer sem o direito a uma vida, à vida que seria a sua se não lha tirassem?
A Moderna – Não, essas visões estão ultrapassadas. O Homem já convive perfeitamente com a ideia de ser um omnívoro, e há métodos de abatimento não cruéis.
TZ – Mas há-os muito cruéis, fora toda a forma como são criados. Imagine uma galinha a viver permanentemente com a dor de ter as suas patinhas em fios de arame enquanto põe ovos, ou uma vaca a ser engravidada constantemente para ter leite, e a chorar dias a fio pelos seus filhos que foram levados para, por sua vez, viverem em cubículos irrespiráveis para não ganharem músculo e permitirem a degustação da carne tenra. Poderemos chamar humanista a um sistema semelhante?
A Moderna – Dores e males há em tudo na vida. Temos de lidar com a ideia da finitude, do sofrimento e da morte.
TZ – Mas há sofrimentos e mortes evitáveis, e vidas deploráveis. Não acredita na liberdade de cada ser para usufruir do seu direito à vida?
A Moderna – Acredito acima de tudo na liberdade. Mas a liberdade não assiste aos animais.
TZ – Mas é isso mesmo que gostaria que me clarificasse. Não lhes assiste a liberdade por serem, como diz, irracionais, por não serem humanos?
A Moderna – É isso.
TZ – O facto de sentirem dor, prazer, medo, alegria, conforto ou alívio, de estabelecerem as suas próprias relações sociais e familiares, e de contribuírem, em muitos casos, para uma relação de ternura com os seres humanos não acrescenta um outro ponto de vista a essa perspectiva?
A Moderna – Não.

 
TZ – Obrigada por parar. Este dia não está fácil…Hoje é o Dia Mundial do Animal e gostava de saber se não considera uma insanidade sem nome, uma tremenda de uma sacanice, desculpe os termos, o que se faz com os animais diariamente. Maus tratos, morticínio, morticínio, morticínio…
O Atento - Obrigado. Eu não tenho animais. Mas não consumo animais. Há 10 anos. Como ovos e lacticínios mas estou a pensar tornar-me vegan, e já ando a ler muito a esse respeito.
TZ – (olhar no vazio) – Mas não considera que os animais têm, como nós, o direito à sua dignidade existencial?
O Atento (admirado) – Naturalmente! Por isso não os consumo.
TZ – Mas não considera isso uma contradição do caraças? Respeita-os muito, tem muita pena e pumba, consome-os?
O Atento (em direcção à estupefacção) – Mas minha senhora, justamente. Não os consumo.
TZ – (colérica) – Consome, consome! Acabou de dizer que os consome, que dá dinheiro para lhes racharem as cabeças, os cascos, estraçalharem as guelras, violentarem as vacas com máquinas toda a sua vida!
O Atento (tomando as rédeas ao problema) – Calma. Por favor. Eu já percebi tudo. É a habituação, não passa de uma alucinação auditiva. Minha senhora, por favor, leia os meus lábios, confie em mim: Eu NÃO como animais. Eu NÃO como animais, compreende agora? Simplesmente não os como. Há 10 anos. NÃO como.
TZ (de olhos esbugalhados e sentindo-se empalidecer e subitamente renascer) – Oh! Oh, mas mil, milhões de perdões. Por favor desculpe-me. Foi, como diz…o hábito. Turva-nos, tolda-nos, enlouquece-nos. Hum…Portanto, não come animais, não é?
O Atento (a sorrir francamente) – Não, não como, esteja tranquila. Há 10 anos. E gosto muito. Vivo muito bem assim, está tudo bem com a minha saúde, não tenho qualquer tipo de saudades de contribuir para o seu sacrifício. Durante muito tempo nem pensava nisso, mas depois de ter pensado…Não pude deixar de continuar a pensar. É viciante. (Sorriso caloroso.)
TZ – Oh…Muito obrigada. Não, não é? (Acrescento muito, muito tímido.)
O Atento (continuando a sorrir tranquilamente) – Não. Não como animais. Há 10 anos. Não. Mesmo.
 
Fosse esta a proporção! Um em seis. Durante muito tempo pouco diferente fui dos outros cinco.
 
Ah e... pensem um pouco em tudo isto. Pensar é viciante, e sentir ainda mais.
 
*Post publicado com ligeiríssimas alterações anteriormente, no meu blog Alegoria da Primaverve. TZ (Tamborim Zim, ou seja, esta que vos digita.)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Da senciência

 
"Podemos não ser todos iguais, mas o nosso desejo de viver não é diferente."
One Voice for Animal Rights
 
Pois é, ainda que possamos passar grande parte da vida sem essa perfeita consciência, os animais têm, tanto quanto os humanos, a faculdade da senciência. Sentem dor, prazer, agonia, alegria, saudades, ansiedade, stress, conforto, medo.
 
Não julgue o leitor que a sua dor de cabeça detém a caraterística única de ser uma senhora humana dor de cabeça. As dores são iguais, dependendo da sua natureza e intensidade, em humanos e animais, em pessoas e vacas, em crianças e gatinhos, em idosos e coelhos. O mesmo para o sentimento de abandono, perda, agressão. E para a deliciosa alegria de estar em boa companhia!
 
E o mesmíssimo para a fundante vontade de viver. Um desejo partilhado, de que espécie alguma pode ser senhora absoluta.
 
Perante isto, como pode defender-se que qualquer atentado à integridade física e psicológica de um animal (seja qual for o animal), não é fazer-lhe mal?
 
E, se concluímos que de mal se trata, como é ainda possível a nós, seres ímpares, sim, mas na capacidade de associar e fazer complexamente interagir razão e sentimento, tradição atávica e ética, aceitarmos passivamente o mal e ser seus coautores?
 
Desafio a que cada um se faça esta pergunta. E que, indo mais longe, a responda. Pelo meio, pensem: "empatia". Garanto-vos não menos do que um périplo fascinante pela vossa interioridade.

The "S" word

Senciência .  Sentience . Sintiencia . Senzienza . Sezgi . 感覚性 . Waarnemingsvermogen . Kesanggupan merasa . Føleevne . Waarneming vermoë .

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Vegan Conscience and Black Consciousness

Quando pensei no nome para este blog veio-me à ideia a Black Consciousness, o movimento de jovens cultos, ativistas e apaixonados que se levantaram contra o Apartheid na África do Sul nos anos sessenta do século passado. Preferi, no entanto, a palavra conscience a consciousness, por significar mais exatamente uma dimensão moral.
 
A relação de ideias é facilmente explicável, a começar no enorme paradoxo de onde a Black Consciousness partiu: uma necessidade de estruturação concetual, intelectual, de grande disseminação, de um princípio mais translúcido que a mais fina água. Todas as pessoas, independentemente da sua cor, devem ser alvo de igual tratamento, sendo possuidoras da mesma dignidade e, portanto, da mesma dimensão humana. Vulgo: os pretos não são animais nem almas espúrias, não têm de entrar por portas diferentes, merecem as mesmas oportunidades e o respeito fundamental atribuído a todos os homens. Óbvio que dói. Mas por isto lutou e sofreu Mandela, lutou e morreu Biko, e tantos outros.
 
A consciência vegan formula-se no mesmo espectro de perplexidade, por um lado, e necessidade de clarificar, por outro. Os animais não são coisas. Não são comida. As suas secreções não são bebida. Os animais não são para amontoar, prender, amassar, esmagar vivos, arrancar dentes a sangue frio, matar com um tiro sumário na cabeça para se lhes consumir a carne, fazer chorar dias a fio ao separá-los dos filhotes, encurtar-lhes 60, 80, 90% da vida para um usufruto sem qualquer utilidade válida. Os animais são seres vivos, têm sistema nervoso central - ao contrário dos vegetais, para as alminhas a quem confunda o arrepio do trigo - , e são donos de uma coisa tão importante, tão complexa, tão ingente, que por agora ficamos só com o seu nome:

 
senciência.

Ser vegan = não roubar

O primeiro post da Consciência Vegan foi uma declaração solene: Borzeguim passa, neste nosso mini-Universo recém-nascido, a Hino Vegan. (A ironia do título não lhe retira a imponente bandeira!) Esta jobiniana é, para mim, uma das mais belas canções compostas e cantadas na História. Mas não seria, em si mesmo, por isso. É que as tantas linhas da sua magnífica letra sintetizam com precisa excelência uma ideia fundamental do Veganismo: deixar ser livre. Deixar o outro viver. Seja o outro um ser humano, como um índio, ou um peixe. Um peixe a nadar, imaginem, exatamente onde está, quer e precisa de estar. O ser, a vontade, a necessidade nos seus devidos lugares.
 
Ontem, hoje, aqui, além, ser vegan é respeitar as consequências últimas da nossa humanidade e ser movido a exercer o poder de escolher não fazer parte, ou escolher não fazer parte no máximo das nossas possibilidades, de um circuito irracional, persistente e absolutamente desnecessário de exploração animal. Não precisamos. Para nada. Não precisamos de continuar a fazer o que não é um nosso direito fazer.
 
Lamento não me recordar da autoria de uma frase que, juntamente com vários outros raciocínios e pensamentos, foi absolutamente preciosa na minha radical (de raiz mas, se quiserem também, de total convicção) alteração de dieta, hábitos de consumo e, mais alargadamente, de ética; era algo como "Ser vegan não se trata de desistir de alguma coisa, mas sim de não a tomar." Não a tomar de outro(s), naturalmente.
 
Em boa verdade, ser vegan trata-se de não roubar. Não se zanguem. Nunca aqui encontrarão apedrejamentos. Teria de fazê-lo a mim mesma primeiro já que, por 35 anos, jamais me questionei sobre o meu não vegetarianismo, o meu não veganismo. Da mesma maneira, todavia, também aqui não há maciez sedutora, compreensão indulgente,  relativismo abandalhado. Aqui, meus queridos leitores, há factos, verdades e rotas de uma escolha. De uma escolha de quem soube, a partir do momento em que começou a refletir profundamente (mesmo enquanto talvez ainda o não soubesse), e a sentir, não existir alternativa para a sua consciência.
 
E, quando não há alternativa, a escolha está feita.



Omni-bem-vindos!

Mesmo que sejam, ou ainda sejam, omnívoros.
 
Tudo isto se explica mui facilmente, até porque este será, tendencialmente, um blog sintético. Não diria propriamente curto e grosso, mas é um pouco nessa senda.
 
Há cerca de dois anos tornei-me vegetariana. Até então, e  perante opíparas refeições carnívoras, era costume lamentar sinceramente a sorte dos vegetarianos, por se limitarem no maravilhoso mundo dos sabores.
 
Há cerca de um ano e meio tornei-me vegan. Reparem, vegan. Lê-se vigan. Não me tornei imaterial, angélica, perfeita, a luzir néons pelas avenidas lisboetas. Não tenho essa pretensão, nem tampouco essa ilusão. Deixei de comer e adquirir produtos de origem animal. É muito diferente de ser perfeito, mas é indubitavelmente um passo em frente na trilha da perfetibilidade. Que, como sabemos, não é perfeição - é importante reter esta ideia.
 
Vegan. Lê-se vigan. Também dito vegano. "A repetição é a mãe da retenção."
 
Mas o coração, leitores, é o pai das verdadeiras transformações.
 
Sejam bem-vindos à Consciência Vegan. Tirem um bocadinho, fiquem à vontade.

Por mim declarado: o Hino Vegan

Tom Jobim e Banda Nova - Borzeguim (Tom Jobim)
 
Borzeguim
 
Borzeguim, deixa as fraldas ao vento
E vem dançar
E vem dançar
Hoje é sexta-feira de manhã
Hoje é sexta-feira
Deixa o mato crescer em paz
Deixa o mato crescer
Deixa o mato
Não quero fogo, quero água
(deixa o mato crescer em paz)
Não quero fogo, quero água
(deixa o mato crescer)
Hoje é sexta-feira da paixão sexta-feira santa
Todo dia é dia de perdão
Todo dia é dia santo
Todo santo dia
Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia de folia
Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia
O chão no chão
O pé na pedra
O pé no céu
Deixa o tatu-bola no lugar
Deixa a capivara atravessar
Deixa a anta cruzar o ribeirão
Deixa o índio vivo no sertão
Deixa o índio vivo nu
Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa, deixa
Escuta o mato crescendo em paz
Escuta o mato crescendo
Escuta o mato
Escuta
Escuta o vento cantando no arvoredo
Passarim passarão no passaredo
Deixa a índia criar seu curumim
Vá embora daqui coisa ruim
Some logo
Vá embora
Em nome de Deus é fruta do mato
Borzeguim deixa as fraldas ao vento
E vem dançar
E vem dançar
O jacú já tá velho na fruteira
O lagarto teiú tá na soleira
Uirassu foi rever a cordilheira
Gavião grande é bicho sem fronteira
Cutucurim
Gavião-zão
Gavião-ão
Caapora do mato é capitão
Ele é dono da mata e do sertão
Caapora do mato é guardião
É vigia da mata e do sertão
(Yauaretê, Jaguaretê)
Deixa a onça viva na floresta
Deixa o peixe n'água que é uma festa

Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa
Deixa
Dizem que o sertão vai virar mar
Diz que o mar vai virar sertão
Deixa o índio
Dizem que o mar vai virar sertão
Diz que o sertão vai virar mar
Deixa o índio
Deixa
Deixa
 
 
*Entenda-se por borzeguim o caçador.